Fotossensibilidade
A fotossensibilidade é uma reação em que o organismo fica excessivamente sensível à luz natural do Sol.
Geralmente manifesta-se pelo aparecimento de dermatites (vermelhidão na pele) nas zonas expostas ao Sol.
Esta erupção cutânea pode ser ou não dolorosa, provocar prurido e apresentar pápulas que libertam exudado.
Este mecanismo é provocado pela hipericina, cuja estrutura molecular é alterada quando exposta à luz ultravioleta (UV) causando acidificação do local onde se acumula (neste caso a pele).
Quimicamente, hiperforina apresenta uma estrutura de ressonância que quando exposta à luz UV provoca um fluxo de iões de hidrogénio entre átomos de oxigénio (como representado na figura). Devido a estas trocas os iões acumulam-se no meio, acidificando-o e provocando danos diretos nas células. Além disso na presença de oxigénio ocorrem reações químicas que conduzem à formação de espécies reativas de oxigénio (ROS) como o anião superóxido. As ROS interagem com diversos componentes celulares como membranas, DNA e proteínas, levando a dano tecidual. [2]
Síndrome serotoninérgico
O síndrome serotoninérgico é um quadro clínico complexo que se instala quando há interações entre alguns medicamentos que atuam a nível do Sistema Nervoso Central. Ocorre quando existe serotonina em excesso devido à ação sinérgica dos diferentes fármacos, e pode conduzir a estados graves como o coma e até a morte.
A acumulação do neurotransmissor serotonina (5-HT) leva a hiperestimulação dos seus recetores, que controlam várias funções corporais. Quando a serotonina existe em excesso as respostas nervosas vão ser exacerbadas, conduzindo a vários sintomas:
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Agitação, inquietação e perda de coordenação
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Aumento da frequência cardíaca, da pressão arterial e da temperatura corporal
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Náuseas, vómitos e diarreia
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Febre, suores e halucinações
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Espasmos musculares e hiperreflexia
Os fármacos capazes de causar síndrome serotoninérgico são aqueles que atuam sobre a serotonina ou os seus recetores. Grande parte destes medicamentos pertencem à classe dos antidepressivos, e correspondem aos grupos SSRI e SSNRI (inibidores seletivos da recaptação de serotonina e da recaptação de serotonina/noradrenalina) ou MAOI (inibidores da monoamina oxidase). Impedem que a serotonina seja recaptada pelas células do sistema nervoso (neurónios) e impedem que seja degradada pela enzima MAO e portanto este neurotransmissor permanece nos locais ativos do SNC (sinapses) onde pode estimular os seus recetores. Exemplos destes medicamentos são Prozac, Zoloft, Paxil, Celexa, Moclobemida, hidrazinas e outros.[3]
Interação com outros medicamentos
As interações medicamentosas são normalmente desfavoráveis porque diminuem a eficácia dos fármacos. Dependendo do mecanismo de interação podem originar-se substâncias novas (metabolitos), tóxicas ou não, ou pode acumular-se um excesso de fármaco em locais específicos do organismo.
O hipericão interage com os medicamentos pela indução da glicoproteína P (gp-P) e do citocromo P450 (CYP), que são moléculas envolvidas nos mecanismos normais que o organismo utiliza para metabolizar os fármacos.
A gp-P é um transportador membranar que existe nas células dos enterócitos, hepatócitos e nas células epitelias dos capilares sanguíneos e renais e está envolvida em processos de efluxo (excreção celular), controlando a quantidade de fármaco que permanece no interior das células. As moléculas existentes no hipericão induzem a expressão desta proteína, o que significa que existe um maior efluxo de fármacos das células, diminuindo as suas concentrações intracelulares e tornando-os parcial ou totalmente ineficazes.
O citocromo P450 é um complexo enzimático responsável pela metabolização de muitos fármacos, quer na sua ativação ou excreção. Existe em grande quantidade no fígado e divide-se em várias isoenzimas (enzimas muito semelhantes entre si mas com pequenas alterações que traduzem diferenças na atividade). O hipericão induz a expressão das isoenzimas CYP3A4, CYP1A2, CYP2C9, CYP2C19, CYP2D6 e CYP2E1, aumentando a sua atividade, o que pode conduzir a:
1) perda de eficácia do fármaco e/ou
2) formação de metabolitos tóxicos.[4]
Bibliografia:
[1] Dermnet NZ 2015 (http://dermnetnz.org/doctors/dermatitis/photosensitivity.html)
[2] Kiesslich T, et al. (2006). Cellular Mechanisms and Prospective Applications of Hypericin in Photodynamic Therapy. Current Medicinal Chemistry. 13:2189-2204
[3] U.S. National Library of Medicine 2015 (http://www.nlm.nih.gov/medlineplus/ency/article/007272.htm)
[4] Klemow K M, et al. (2011) Herbal Medicine: Biomolecular and Clinical Aspects. 2nd edn. Chapter 11: Medical Attributes of St. John’s Wort (Hypericum perforatum). CRC Press
[5] Adaptado de http://www.toxipedia.org/display/toxipedia/Selective%20Serotonin%20Reuptake%20Inhibitors
[6] Adaptado de http://www.zoomout-ph.com/2014/04/drug-drug-interactions-concept-map.html
Figura 6. Exemplo de uma dermatite causada por fotossensibilidade[1]
Nas doses habituais o hipericão não causa este síndrome, mas quando é usado para complementar o tratamento com outros antidepressivos pode contribuir para esta patologia.
Figura 9. Consequências da indução do CYP450 [6]
Tabela 5. Isoenzimas do CYP450 e respetivos substratos
Figura 7. Mecanismo de ação da hiperforina que causa fotossensibilidade
Figura 8. Efeito serotoninérgico causado por efeito sinérgico entre os diversos fármacos [5]